sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Oxaguiã.



   Senhor dos contrastes, poderoso estrategista e astucioso, Oxaguiã (Òrisà Ogiyán) é o guerreiro jovem da família dos orixás funfuns. É saudado como Eleejigbô (Eléèjígbò), o “senhor de Ejigbô”, na cidade de mesmo nome, na Nigéria. No Brasil possui diversos codinomes, muitos que são utilizados para apaziguá-lo: Orixá Oguiã, Oxalaguiã, Oxaguim, Xaguim, Oxodim. São vários nomes para um grande guerreiro!


   Filho de Oxalufon, o senhor da cidade de Ifon, é tratado como o mais novo dos orixás do panteão do branco, mas isto não o transforma em um jovem! Nenhuma divindade integrante deste grupo é considerada jovial, porque são pertencentes à época da criação, o que os torno possuidores de idade imemorial. Oxaguiã só é menos ancião que seu pai! É um orixá que possui grande fundamento e enredo espiritual, e que se torna perigoso para o observador inexperiente, pois mostra suas duas faces: a da paz e a da guerra. Cabe ao babalorixá descobrir e decifrar o que a divindade está mostrando. Além disso, Oxaguiã é um grande dissimulador, que gosta também de provocar conflitos, enganar e testar! Para a iniciação de seus filhos todo cuidado e saber são poucos, porque sua “feitura” necessita de cuidados muito especiais, em que tudo obedece a horários e momentos estipulados! Nunca é bom esquecer que Orixalá é o orixá do imobilismo, da placidez e da quietude, mas que Oxaguiã, dentre os do panteão funfun, é quem traz a agitação, o vigor, a energia e, até mesmo, um certo desequilíbrio geral! 

   Patrono da instabilidade, é também quem permite a mobilidade, dois pólos necessários para a produção do dinamismo, elemento que transforma e proporciona evolução ao dia-a-dia da espécie humana. Como o “senhor da instabilidade”, é quem provoca os delírios e o desequilíbrio emocional, mas é também aquele que os controla! Numa contradição perfeita, produz a estabilidade e o equilíbrio, mas transforma-se no ponto fixo de um pêndulo quando promove a desordem e a desarmonia. As pessoas com problemas de saúde a ele recorrem para que intervenha e faça a vida prevalecer sobre a morte, porque ele transita nestes dois campos. Esta sua ligação vida/morte é comprovada no uso de suas cores: o branco, elemento símbolo do ar, da vida, produto do orum, e o azul (o seguí), representando o preto da terra, elemento do aiê.

   Poderoso estrategista nas batalhas, tenta a todo custo evitar o confronto direto, preferindo recorrer primeiro a subterfúgios que promovam a paz. Foi Oxaguiã quem trouxe para o homem o ensinamento da pacificidade, da disciplina, da hierarquia e do respeito e, por isso, gosta de mostrar a guerra e a paz, para que o ser humano possa fazer sua escolha. Como podemos ver, Oxaguiã é um orixá dúbio: que vai à guerra, mas que tenta promover a paz; provoca derrotas, mas é quem traz vitórias e equilíbrio; ama demais a vida e, através desta, consegue driblar a morte. Ele não guerreia pelo sabor da destruição, sua guerra é direcionada para o lado humano; luta pela justiça, pela moral, pelo bem estar da comunidade, provocando promover a paz e a união.


   Patrono da observação, da leitura e da inteligência, é o “senhor da materialidade”, quando proporciona ao homem a condição de colocar em prática seus pensamentos e suas idéias. E permite que o ser humano invente, construa e produza sempre novos objetivos, levando a vida para novos rumos e construindo novos conceitos. Seguindo seu pensamento inventivo e inovador, Oxaguiã tornou-se o “proprietário dos assentos”, e domina todos os bancos, cadeiras e tronos que propiciam um descanso ao corpo humano, pois para este orixá a felicidade do homem é fundamental! Ele proporciona também aos orixás e, principalmente , a Orixalá, o trono onde estes se sentam! Muito elegante no trajar, é também conceituado como o “orixá dos adornos e dos ornamentos requintados”, que produzem a beleza e a graça com simplicidade!


   Possui ligação com inúmeros orixás, alguns deles muito perigosos, e outros detentores de grande poder e axé. Sendo o único orixá funfun com o poder do movimento e da agilidade, é ele que promove a comunicação entre todos os orixás deste panteão; destes com os demais orixás; e também de todos os orixás com os homens.


   Relaciona-se muito intimamente com Exu, o comunicador e mensageiro. Desta união surge a função de promover a harmonia entre os poderes femininos e masculinos, produzindo o equilíbrio entre as ajés e o oxôs, seres interligados com os poderes mágicos da floresta e das águas. Oxaguiã, como partícipe do grupo dos oxôs, se aproxima de Oxum, reinando ambos como dignos representantes destas duas sociedades poderosas, juntamente com Oxóssi e Logunedé. Nesta sua relação com a floresta e com o panteão do branco, liga-se com as árvores e com os iwíns, seres divinos de Orixalá que nelas habitam e que tem incutidos em si a síntese da descendência. Oxaguiã também relaciona-se com Iroko, a divindade do branco residente na floresta e representante mais importante das grandes árvores, e com Logunedé, o senhor da magia. Estes lhe proporcionam o equilíbrio de seu vigor e de sua brutalidade, porque junto lhe ensinam como utilizar a persuasão, junto com a força e o poder, no auge de uma contenda.


   Chamando de “senhor dos inhames novos”, este tubérculo é para ele tão ou mais poderoso e energizante do que o azeite-de-dendê é para Exu. Depois de pilado, o inhame (isù) recebe o nome de iyán, de onde advém seu epíteto, Òrìsàjìyán, ou Orixaguiã, “orixá comedor de inhame pilado”. É um alimento divino e litúrgico, que produz sua principal refeição, o alaguiã, bolas feitas com a massa pilada do inhame e preparadas com sérios preceitos. Com seu poder inventivo e para ajudar na preparação deste alimento, Oxaguiã criou o pilão (ojó odó) e a mão-de-pilão, que se tornaram seu emblema e proporcionaram-lhe outro título, o de “senhor do pilão”. Este utensílio, dentro da religião, também pertence a Xangô, o orixá patrono dos elementos fabricados com a madeira.


   Muito ligado ao cultivo, Oxaguiã é um dos orixás da fartura e da opulência, e se relaciona com Oxóssi, a divindade provedora dos alimentos. Entre eles existe uma relação familiar, porque o mais importante integrante desde panteão, Ajagunã, juntamente com Iemanjá, são considerados , pelos itans, como os pais de Erinlé, poderoso participante do grupo dos caçadores. Oxaguiã tem grande apego e profundo amor por este odé, chamado de “caçador de elefantes brancos”, no que é plenamente correspondido. Pai e filho são igualmente parceiros no  grupo dos oxôs. Com Ogum, agricultor e guerreiro modelador dos metais, Oxaguiã surge como irmão e ajudante na evolução da tecnologia. Esta união ajuda na produção de novas armas e ferramentas, pois são inovadores nas criações e remodelações. Ogum forneceu a ele as armas, e também lhe ensinou como usá-las em sua defesa, nas guerras. A ligação destes dois é tão grande que Oxaguiã não aceita que seus filhos se indisponham, enganem ou traiam os filhos deste orixá, porque Ogum poderá castigá-los! Ele sabe que apesar de ser um guerreiro, o título de “senhor da guerra” é de Ogum. Guerreiro como Ogum, Oxaguiã é também o “assiwaju dos orixás funfun”, aquele que abre os caminhos para as divindades do branco no cortejo!


   Uma iyabá que usufrui de sua companhia e de suas mesmas habilidades é Obá, guerreira que como ele faz o uso do escudo e da espada, e que, como caçadora, utiliza-se também do ofá. Por terem em comum a beligerância, as contendas e as divergências, ambos se respeitam.


   Embora Obá não aceite parceiros para sua vida afetiva, aprecia se ligar a companheiros que a acompanhem e a estimulem nos confrontos guerreiros. Pela sua necessidade de proteção e do uso da camuflagem em suas batalhas, Oxaguiã também se intercomunica com Iewá, vodum da nação fon que tem o dom da dissimulação e do disfarce. Ambos podem ser responsáveis pela união dos dois panteões, o fon e o ioruba, o que lhes permite interagir, sem haver sobreposições. Oiá, a senhora dos antepassados, forneceu a Oxaguiã o atorí, a vara de madeira resistente que representa o poder e autoridade, e que serve para comando e controle da ancestralidade. Esta vara é seu símbolo, sendo utilizada também como objeto de ataque ou de defesa.


   Chamado de Babalaxó (babalasó), “o senhor do axó”, é o responsável pelas roupas que protegem e agasalham o corpo do ser humano, interligando-se com Babá Rowu, o “senhor do algodão”, e com Iemanjá Sobá, a fiadeira do algodão (owu), que o abastece deste elemento. É com este tipo de tecido que é feito o alá que cobre e protege Orixalá e os demais orixás funfuns.


   Uma velha divindade que se relaciona amigavelmente com Oxaguiã, pertence ao seu grupo, é Babá Okô, o “patrono da agricultura” e “senhor das terras cultivadas”, responsável pela alimentação do planeta. Orixá Okô é a própria energia cultivadora, que sabe como fazer nascer e crescer as coisas na natureza, e que ensina como cultivar novas vidas na terra. É auxiliado pelos insetos e pelos pássaros, que carregam novas vidas em suas patas, pelos seres microscópicos que fazem uma constante renovação da terra e também pelas fezes dos animais, um fertilizante natural. E é ajudado pela chuva, que regenera sua terra!


   Na nação bantu existe um inquice assemelhado a Oxaguiã, com o nome de Lemba-Dilê, também um guerreiro jovem, que se veste de branco e portador da espada e do escudo. Seu símbolo é o barco, sendo chamado de “o guerreiro navegante” ou “o regente das águas”.


   Oxaguiã representa o nascer do dia, simbolizando o primeiro raio de Sol que esquenta a terra fria da madrugada! Ele é a claridade vencendo e cortando a escuridão da noite, “acordando” o dia e ajudando o homem a criar um novo ciclo de vida. O filho-príncipe que protege o rei e que usa a espada para resguardar o opá! 


Generalidades do orixá:


Como são chamados seus filhos: olissassi, oxalassi.


Dia da semana: sexta-feira.


Elementos: água, terra e ar.


Símbolos: pilão, mão-de-pilão, alfange, espada, escudo.


Metais: prata, chumbo, estanho, ferro.


Cores: branco e azul-claro.


Folhas: cana-do-brejo, manjericão, do cafeeiro, alecrim e boldo.


Saudação: Epi Epi Babá! Xeueu, Babá!


Seus filhos:


   Os filhos de Oxaguiã são pessoas longilíneas, de porte viril e elegante, atrevidas e maliciosas. Sensuais, costumam ser volúveis até se fixarem em um (a) parceiro (a). Não se mostram inteiramente, omitindo certas características e particularidades. Sua verdadeira personalidade é escondida até mesmo dos seus mais próximos. Trabalhadores, organizados e lutadores, são ótimos estrategistas e bons parceiros, tanto na vida pessoal e amorosa, como nas amizades. Em certos momentos tentam impor suas vontades, até mesmo sem sentir. Parece que eles controlam o mundo!


   Conseguem galgar posições superiores, sem permitir que o poder lhes deixe deslumbrados, preferindo trabalhar a comandar. Se privilegiados pela sorte, são generosos e esbanjadores, sem muita preocupação com o futuro. Independentes e irrequietos, mostram-se carentes e necessitados de atenção, mas procuram abster-se disso ao sentirem que sua liberdade poderá ser tolhida. Se sua vida não vai bem, ficam irritados, ressentidos, desanimados, mas, de repente, a sorte muda e surge alguém para lhes impulsionar e dar novo ânimo. Como se o Sol surgisse detrás das nuvens e clareasse sua vida!


   Pessoas alegres, extrovertidas e felizes, gostam de lugares movimentados, de festas, de música, preferindo o dia e as manhãs claras e ensolaradas. Bons anfitriões, deixam as pessoas impressionadas com seu modo de ver a vida, com sua liberdade e descontração. Delicados e bondosos, sabem fazer e conservar amigos, sofrendo por eles e desdobrando-se para agradá-los, se tiverem reciprocidade. Mas são inimigos perigosos e traiçoeiros, difíceis de ser controlados, capazes de atos impensáveis. Quando a raiva passa, tudo fica encoberto, porém, nunca esquecido. Mas não costumam levar adiante seu desejo de vingança, porque sabem que terão que responder perante seu próprio orixá por aquilo que fizerem!


   Devido à sua liderança natural, as pessoas que os rodeiam, por vezes, sentem-se ameaçadas pela sua presença. Possuem um espírito brilhante e seu lado intelectual é bem desenvolvido, evoluindo cada vez mais pela vontade que têm de aprender e de se aprimorar. Possuem o dom da palavra e grande compreensão das coisas a seu redor. Impulsivos, gostam de desafios, saindo geralmente vencedores, pois competem com garra e determinação. Grandes defensores dos injustiçados e dos incompreendidos, procuram estar sempre em defesa da verdade, através da argumentação. Às vezes se mostram agressivos e brutos no trato com as pessoas, pois não sabem utilizar muito bem sutilezas e artimanhas, mas são apaziguadores e delicados ao extremo.


   Uma coisa é certa para os filhos de Oxaguiã: embora sejam guerreiros, não procuram confusões ou brigas, e não costumam ser agressivos! Axé!

33 comentários:

  1. lindo texto sou filho de oxaguian e achei muito coerente tanto características do meu orixá como as minhas, axé a todos

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  2. lindo texto sou filho de oxaguian e achei muito coerente tanto características do meu orixá como as minhas, axé a todos

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  3. Gostaria de conhecer mais um pouco do enredo de Oxaguian com Exu, agradeço desde já!

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    1. Também tenho um grande interesse em saber do enredo de Osogiyan com Esu, se você tiver conseguido tal conhecimento peço que compartilhe meu irmão. Axé!

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  4. nossa sempre tentei querer mudar algumas coisas em mim mas ñ consegui ,agora descobri porque ,sou filha de oxaguiã .estou de boca aberta sou assim mesmo .meu muitíssimo obg .íncrivel .

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  5. nossa sempre tentei querer mudar algumas coisas em mim mas ñ consegui ,agora descobri porque ,sou filha de oxaguiã .estou de boca aberta sou assim mesmo .meu muitíssimo obg .íncrivel .

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  6. Incrível belo texto, como sou filha dele 😍

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  7. Me identifiquei completamente,Salve Oxaguiã meu pai!!

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  8. Amei sou filho de oxaguiã e o texto esta certíssimo. Sou assim.

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  9. Muito bom o texto. Sou assim mesmo. Adorei!

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  10. Sou filha de Oxaguiã e sou isso por dentro e por fora, muito bom, definição perfeita, das características. Muito Obrigado.

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  11. Epa Babá!
    Meu grandioso Pai Guiã 📿

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  12. Perfeita definição das características e atribuições de ambos entidade e seus filhos, muito esclarecedor Axe!!!

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  13. Amei ver a foto de meu pai ilustrando este post. Estou bastante emocionada pela coincidência. Essa foto foi do ano em que fui iniciada e agora em 2018 estou às vésperas da minha obrigação de sete anos, eis que lendo um pouco sobre o que tem pela rede sobre este lindo Orixá encontro essa linda foto do ano da minha iniciação. Só tenho a agradecer esse lindo presente. Parabéns pelo blog.
    Épà Babà!

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    1. AIn que lindoooo me emocionei tbm. Papai faz tudo lindo né <3

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  14. Sou filha dele e vou fazer Santo, excelente texto,Exeu epa baba

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  15. Parabéns, todas as características dos filhos do Oxaguiã confere com o que eu sou :) Ase , motumba a todos.

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  16. Sou um escolhido de Oxaguiã, gostaria de saber se essa ligação referida no texto pode ter alguma influência no ila?

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  17. Este comentário foi removido pelo autor.

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  18. Lindo texto!!!
    Sou igual papai, cagado e cuspido.

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