terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ogãn.



                Texto retirado do Livro “O candomblé bem explicado” de Odé kileuy & Vera de Oxaguiã.

São as autoridades masculinas, de posto hierárquico abaixo do/a sacerdote/sacerdotisa, e seus auxiliares diretos, assim denominadas pelo povo ioruba. Na nação fon recebem o nome de runtó/huntó e, na nação bantu são chamados de xicaringome/xicarangoma ou tata cambono. Estes homens, tal como as equedes, não entram em transe e só passam a ser integrados a uma casa a partir de algumas destas decisões:

  1.  Tendo sido escolhidos pelo babalorixá entre as pessoas que frequentam a casa, pelos seus préstimos ou pela amizade que mantêm com a casa.
  2. Tendo sido apontados como candidatos à confirmação, descobertos geralmente através do Jogo de Búzios.
  3. Tendo sido suspensos pelo orixá dono-da-casa ou por um orixá que os escolheu e chamou para si;
  4. Finalmente, podem ser ogãs confirmados aqueles que realizam suas obrigações sacramentais, que recebem sua faixa identificatória com o nome do seu cargo. (esta faixa geralmente será usada nas grandes festas e também irá acompanha-los na hora de sua morte).

   Sua preparação litúrgica segue mis ou menos a preparação do iaô, com ligeiras variações e com liturgias menos complexas. Os rituais propiciatórios iniciam-se com ebós, banhos purificatórios, Bori etc. na grande maioria das casas de candomblé, os ogãs e também as equedes não são raspados, nem levam oxu ou quelê. Tal como os demais participantes da comunidade, devem reverência, respeito e obediência ao/a seu/sua babalorixá/iyalorixá.

   O ogãn é um cargo de total confiança dos zeladores do Axé, de grande importância na religião e que concede certo status a quem o possui. Justamente por isso, essa pessoa deverá ter boa postura moral, conduta exemplar, ser leal e fiel ao seu superior hierárquico, à sua casa e, principalmente, ao orixá que o escolheu, pois tornou-se uma propriedade deste. Os ogãs tuam em vários locais na de candomblé: no salão, no quato dos orixás, no quarto de exu, ns matanças, nos toques etc. Mas não participam diretamente dos rituais de iniciação de iaô e em outras de senioridade. Estas autoridades não são “feitas”, são somente preparadas, então não podem participar de rituais de feitura. Isto não os desmerece, mas também não so qualifica para participar de liturgias sagradas. Ogã não pode ser babalorixá; contudo, em algumas casas ele pode assumir o Axé em momentos de emergência, mas com o auxilio de uma pessoa. Mas não poderá jamais ser intitulado de “babalorixá”! No caso daquele que fugir às sias responsabilidades perante o orixá que o acolheu, não seguindo as regras do Axé a que pertence nem honrando seu titulo, a divindade poderá “tomar” de volta seu cargo!

   No passado, tradicionalmente, os ogãs e as equedes eram o “esteio financeiro” das casas de candomblé e respondiam pelas festas do seu orixá patrono. Às equedes competiam a roupa do orixá e a comida da festa; aos ogãs, os bichos e as bebidas. Atualmente, em algumas casas, isso se modificou e é usual fazer-se as suas obrigações na mesma época da festa do orixá do/a babalorixá/iyalorixá. Outra coisa que é observada é que, no passado, ogãs e equedes não possuíam um igbá para seu orixá. Sua obrigação er feita no ojubó, um assentamento coletivo, ou no igbá do seu babalorixá. Porém algumas modificações estão ocorrendo e, em alguns Axés, essas pessoas já podem cuidar do seu igbá particularizado.

    São carinhosamente chamados de pai até mesmo pelos mais antigos. Aqueles iniciados que foram puxados pelos toques dos seus atabaques; as pessoas que possuem o mesmo orixá que eles; ou aqueles que pertencem ao orixá para o qual o ogan foi consagrado. Um ogan não deve deixar que a soberba e a vaidade façam parte da sua vida religiosa. Ao agir corretamente, estará merecendo seu titulo e, nesse caso, até os mais antigos na religião irão respeitá-lo! A bênção, ao ser solicitada, é dirigida ao seu orixá e deve ser retribuída, de forma carinhosa, espontânea e natural, pois é motivada pelo amor e pelo apego que é dedicado aos orixás. Se a bênção for retribuída com delicadeza e afeto, ela será dividida!

   O ogãn tem o dever de cuidar para que as festas em sua casa de candomblé transcorram em perfeita harmonia e não deve permitir situações que denigram a religião ou a sua casa. Ele precisa aprender e entender, desde muito cedo, que possui um elo que o liga diretamente com o orixá. Sendo assim, seu comportamento tem que ter direcionamento religioso em tudo que fizer na casa de candomblé, pois isso se refletirá na comunidade. Seus principais atributos são: a educação, o seu amor pelos instrumentos sagrados, o saber conduzir os orixás, sua autoridade com os demais ogãs, convidados e os que pertencem a casa, receber bem s pessoas, agir civilizadamente com seus irmãos de Axé. Tudo isso permitirá que seja cada vez mais conhecido e obedecido. Assim, estará cumprindo fielmente seu papel de representante religioso e social nas festividades da casa de candomblé.

   Tudo isso que dissemos mostra que o ogan não é parte decorativa no barracão. Seu papel religioso é de suma importância. Entre suas variadas
obrigações estão os cuidados com os atabaques, principal instrumento de comunicação do homem com os orixás, juntamente com os toques e danças. Seu contato com os instrumentos deve ser de profundo respeito, lembrando-se que estes são sacralizados e preparados liturgicamente, tal como ele. Seu toque vai chamar as divindades, trazê-las novamente à terra para se irmanarem com os homens. Quem produzirá isso serão suas mãos, sua boca e seu corpo. Estas partes precisarão estar fortalecidas e límpidas para se relacionarem com as divindades. Bebidas alcoólicas, interações sexuais, vaidade, prepotência, inimizades  e drogas só trarão energias negativas que, com certeza, provocarão desarmonia e desestabilizarão a comunidade.

   Cada terreiro tem seus próprios ogãs, já acostumados com os métodos e costumes da casa. Isso porem não inviabiliza que os ogãs visitantes toquem seus atabaques nas festas, obedecendo as regras locais, o que une ainda mais os Axés, proporcionando troca de informações e experiências. Contudo, como autoridades, os ogãs precisam estar sempre alertas e prontos para ajudarem a manter o conjunto da festa em perfeita ordem.


Alguns cargos de ogãs:

Alabê (ioruba): chefe dos tocadores dos atabaques e dirigente dos demais ogãs nas festividades e nas alvoradas das grandes festas. Responsável pela conservação e preservação dos instrumentos musicais sagrados, é também o relações-públicas da casa.

Axogum: faz os sacrifícios rituais pra os orixás.

Onilu: o tocador do atabaque conhecido como ilu.

Assobá: muito ligado a omolu e seus cultos, cuida também dos pertences de Nanã, Egum e Exu.

Alagadá: cuida das ferramentas de Ogum.

Oju odé: cuida dos elementos de Oxóssi.

Balodê: ogãn do orixá Odé.

Oju obá: posto de honra dado a determinadas pessoas de Xangô, se a casa pertencer a Xangô. Possui dois auxiliares, o otum e o ossí.

Dorobá: posto dado ao homem para ajudar nas funções do orixá Xangô.

Alubim: cuida de Oxalufom e de Oxaguiã.

Elemoxó: cuida dos pertences e das vestes de Oxaguiã.

Lein: cuida de Ogum. Cargo dado somente a filhos de Ogum ou de Oxóssi.

Gimu: cuida dos pertences de Omulu, Nanã e Ossâim.

Obá odofim ou olofim: cuidador da casa de Orixalá e de Airá.

Abogum: cuida de tudo que se relaciona com Ogum dentro da casa.

Olossâim: responsável pelos pertences e pelo assentamento de Ossâim.

Baba Iegã: cargo exclusivo para tirar somente as penas dos animais.

Baba morotonã: aquele que retira as patas dos animais sacrificiais.


   Existem muitos outros cargos de ogãn, alguns já esquecidos e outros que não foram utilizados no Brasil. Cada ogan e também cada equede têm um cargo primordial dentro de sua casa e, muitas vezes, só atuam no momento exato da sua função, não participando das demais. Porém, em uma casa onde existam poucos ogãs e poucas equedes, estes ficarão assoberbados porque farão várias funções ao mesmo tempo que não são de sua prerrogativa. Cada Axé pode e deve consagrar os ogãs que lhe são necessários. O sacerdote tem a condição de escolher e entronizar os adeptos ou simpatizantes que poderão fazer parte mais intensamente da casa, ajudando-o tanto física como materialmente.

3 comentários:

  1. Sempre se fala que o balode é o ogã de Odé! Mais qual seria sua atribuição a casa de Asé? Porque fica muito vazio não saber sua atribuição dentro da casa..

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  2. Fui confirmado agora pouco como balode! E não sei qual seria minha atribuição dentro do terreiro, gostaria muito que alguém podesse esclarecer pra mim, além de ser ogã de Odé?

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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